quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Durante essa semana trabalhamos com o gênero memória, por isso, pedi aos alunos que fizessem uma entrevista com uma pessoa mais velha, poderia ser um avô ou avó, eu no entanto, para exemplificar peguei uma entrevista que havia feito com a minha avó e resolvi transformá-la em memória, tendo assim um exemplos para seguir.  Segue abaixo a memória produzida por mim e trabalhada em sala com meus alunos.

Recordar é viver
                                                                                       
Certo dia conversando com minha vó, tive a curiosidade de saber como ela apendeu a ler e escrever, então comecei a perguntar.
 _ Vó a senhora foi à escola? Como era o ensino no seu tempo de criança? Os professores, eles eram capacitados? Como era a escola naquele tempo?
            A minha vó se viu tão aflita com tantas perguntas que não sabia por onde começar a responder, então me disse:
_É minha neta vou lhe contar tudo, sente aqui do meu lado. Então me sentei ao lado da minha vó e passei a ouvir toda a sua história de vida.
_Quando comecei a estudar, eu tinha 11 anos, não sabia nenhuma letra, então comecei pelo livro do ABC e depois continuei a estudar e li do primeiro ao quarto livro e ainda comecei a ler o manuscrito, se eu pegar ainda hoje consigo ler, mesmo com a visão meio fraca, mas ainda consigo. A dificuldade era muita, pois meus pais eram doentes, analfabetos, não tínhamos dinheiro para quase nada, era muito difícil, só que como eu tinha muita vontade de aprender, arrumava tudo, tudo, de minha cabeça, viu! O pouco que eu aprendi foi de meu juízo.
_ Vó, mas e seus professores? voltei a perguntar.
_ Tinha um professor, ele era matemático, muito bom para ensinar, conta era com ele mesmo. Ele se interessava muito por mim, porque dizia que eu era muito inteligente. Naquele tempo, tudo era gravado na cabeça, era decorado mesmo, até hoje eu ainda sei coisas decoradas, até hoje sei. Tudo era muito difícil, não era como hoje, no dia que tinha tinta, não tinha papel, no dia que tinha papel, não tinha tinta, lápis, caneta, isso não existia, escrevíamos com pena, pois é, pena molhada no tinteiro! Sofri muito, mas assim mesmo aprendi umas coisinhas, assinar meu nome, até já escrevia cartas, mas o complicado mesmo era a pontuação, até hoje não consigo escrever porque não sei usar a pontuação. Eu ainda não satisfeita com as respostas da minha vó, continuei com as indagações.
_Mas vó, e esses professores, eles eram capacitados? Eu mesma imaginei, como seria capacitados naquele tempo, que como ela já havia me falado tudo era muito difícil, porém ouvi as respostas de minha vó.
_ Ele era formado minha neta, era o professor Miranda, um matemático de ninguém botar defeito, ele era daqui, nascido aqui, só que foi para São Paulo e de lá nunca mais voltou. Como ele era matemático, o que mais ele ensinava era fazer conta, mas ele ensinava ler também, era lido assim oh... corrido, não era soletrado não! e a gente  aprendia, viu! Hoje depois que fiquei de idade, minha cabeça já não funciona direito, então não sei mais muita coisa. Um outro professor que tinha aqui, morreu cedo, então não aprendi nada com ele. Sim, tinha outro, seu Luiz, era muito bom para ensinar as crianças, mas as crianças é que não tinham interesse em aprender.
            Quando ouvi isso da minha vó, não tive como não parar e pensar, eu sou professora hoje e vejo uma realidade diferente daquele tempo da minha avó, temos professores capacitados, cada um em sua área de formação, porém as crianças me parecem as mesmas, se eu for comparar com o pensamento da minha vó. Hoje com tanta facilidade, tecnologia avançada, professores capacitados, computador, televisão, tudo que queremos temos ao nosso alcance, mas os nossos alunos pouco querem na escola, pouco se interessam em aprender. É, mas quero continuar a ouvir o relato de minha avó e não ficar questionando sobre o ensino de hoje.
_ Os pais eram tão pobres que não tinham dinheiro para comprar nem papel, nem tinha, por isso minha neta vou lhe dizer, o sofrimento foi muito grande, só não aprendi mais por causa disso. Veja só, nesse período eu ainda era obrigada a sair da escola para trabalhar na roça, para arrumar o dinheirinho de comprar a tinta, o papel, para comprar o que comer, pois não aguentava ir todo dia em jejum. Foi assim muito difícil, mas valeu o que aprendi, pois pude incentivar os meus filhos a estudar, não é à toa que aqui em casa tenho três filhas professoras. Após ouvir todo o relato de minha avó fiquei imaginando como foi viver naquele tempo tão difícil e se manter tão forte como ela se mantém.
   
           

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